Um parque em Marte
- L. G. Lopes
- 12 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de abr.

Começou como uma conversa no café.
A ideia ganhou corpo, foi ganhando investidores.
Virou pesquisa e visitou Orlando, Paris, Tóquio, seguiu dando voltas no mundo, até parar fora dele, em Marte.
Estamos em 2042 e estou falando da inauguração do primeiro Parque de Diversões fora da Terra. Calma, o Planeta Azul ainda sobrevive aos maus tratos humanos. A exploração em novos planetas era inevitável.
Claro que isso não seria possível sem os grandes avanços da tecnologia nas últimas décadas: a viagem seminstantânea, por exemplo, quebrou todos os recordes ao permitir viajar esses 60 e tantos milhões de quilômetros em apenas 2 horas, isto sem terminar distorcido como nos testes feitos em teleportes.
O parque se tornou uma verdadeira obra de arte, uma das seletas maravilhas construídas pelo homem moderno, em meio à chamada Vila Marciana.Sua abertura reuniu milionários e as maiores autoridades do planeta em uma selfie sem intrigas e com a Terra ao fundo.
Essa comitiva pôde experimentar em primeira mão as atrações em baixa gravidade, refeições exóticas e iguarias do Planeta Vermelho, viagens por cavernas e subsolos, tudo isso acompanhados somente de robôs e Inteligência Artificial.
Os dias se passaram desde a data inaugural e, acredite, os preços baixaram tanto na viagem interplanetária que eu pude fazê-la e conhecer esses detalhes. Um deles é terem superado de tal forma o recorde de público que já está entre os dez mais frequentados parques de diversões - chutaria dizer que as pessoas podem estar evitando gastar dinheiro com os outros para poder ir a ele.
No entanto, o motivo desta mensagem holográfica não é o parque e sim contar sobre algo que presenciei nele. Foi algo desconcertante, confesso, até mesmo para os robôs.
Acontece que o ingresso para o parque não está incluso em algumas passagens interplanetárias, como a de segunda classe, mas bobos esses investidores não são. Fazem um marketing tão agressivo que fica quase insuportável pensar em voltar de Marte sem adquirir o ingresso e passear pelo Galaxy Park.
Acabei por ceder e fui até a loja de souvenirs comprar o meu. Tecnologia para não precisar me deslocar nessa aquisição existe, mas não há nenhuma que supere as tentações presenciais de uma loja tão diferenciada. Posso dizer que gastei algumas criptomoedas sim, e é de lá que virá seu presente, inclusive.
Mas o fato é que quando estava no caixa, olhei para o robô à minha frente e ele estava perplexo. Eu nem imaginava que robôs conseguiriam ter desse tipo de expressão, mas foi claro como o Sol refletido na cúpula nas manhãs marcianas.
Olhei para o lado e outros robôs e pessoas pareciam paralisados também.
Com um receio crescente, me virei e vi. Paralisei. Não era fantasia nenhuma, quem me encarava era um ET! Você pode não acreditar, mas as dimensões de pescoço e braços, a pele brilhante grudada em algum tipo de armadura, a cabeça esticada, o nariz quase inexistente, a boca enrugada, os olhos imensos e totalmente pretos, enfim, tudo ali era real.
Depois de algum tempo com todos perplexos, o ET pendeu um pouco a cabeça e soltou um baixo ruído. O ruído de alguma forma se tornou claro e pudemos entender suas palavras, dirigidas ao robô do caixa:
— Gostaria de um ingresso para o parque. Vocês aceitam créditos andrômedos?
Eu não sabia se ria ou me beliscava. Com certeza não aceitavam esse tipo de "moeda gosmenta", mas o robô foi rápido e educado em recebê-las, dizendo que "se estamos recebendo tão ilustre visita, é porque o parque já se tornou intergaláctico e será bom ter troco".
No fim das contas, o ET solitário passou próximo de mim pela entrada do parque, entregou o ingresso e - não pire com o que vou dizer - se desmanchou em quatro ETs menores. Era uma família!Enfim, já estão acabando meus créditos holográficos, então vou resumir. Os andrômedos aproveitaram como ninguém as atrações, tomaram litros de café e saíram ainda mais energizados.
Conclusão: lembra que falei de marketing agressivo? Dessa vez superaram galáxias! Só vão precisar superar agora o jeitinho extraterrestre de pagar ingressos a menos... Ou esse jeitinho também seria terrestre?
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